Jornalismo do centro do mundo

Para vencer o racismo, só com ocupação de poder. É na construção do governo de transição e da equipe que vai governar com Lula a partir de 1º de janeiro que o presidente eleito vai mostrar se seu compromisso com a Amazônia e outros enclaves de natureza é real. Não bastam políticas públicas para os povos da floresta e de outros biomas, é preciso políticas públicas com esses povos. A diferença entre “para” e “com” é decisiva.

Os povos originários já mostraram com suas vozes, na primeira parte da série Natureza no Planalto, que estão atentos ao “com”. Agora, é a vez de ribeirinhos, quilombolas, camponeses agroecológicos e lideranças de movimentos sociais da Amazônia deixarem explícito para Lula que querem um governo em que sejam não só escutados, mas também protagonistas das decisões. “Nada sobre nós sem nós” é um mantra também na Amazônia.

A história da frágil democracia brasileira mostra que os povos originários e as populações tradicionais são objeto de políticas públicas, mas raramente protagonistas das decisões. O mais próximo de terem uma representante no primeiro escalão de um governo foi quando Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula, de 2003 a 2008. Ter sido seringueira na origem, ter participado da luta de Chico Mendes (1944-1988) nos “empates” no Acre, em que adultos e crianças da floresta se colocavam de forma pacífica diante das máquinas e dos jagunços para impedir o desmatamento, fez diferença nas escolhas de Marina. Tanto que eram os números da gestão dela que Lula tinha para mostrar durante a campanha.

Os próximos dias, em que o presidente eleito vai definir as pessoas que estarão com ele tanto nestes dois meses de transição quanto na construção dos ministérios e de suas equipes para o próximo ano, mostrarão os rumos que o governo pretende seguir. O discurso de vitória, com compromissos fortes com a Amazônia e seus povos, foi feito com Lula cercado por uma maioria branca e um número maior de homens. Chamou atenção. A composição étnico-racial e de gênero precisa mudar nos anúncios próximos da divisão de poder, para que o discurso possa de fato se realizar.

Se os povos originários encontram muitos ouvidos fechados no Brasil, as populações tradicionais não indígenas da floresta encontram muito mais. Quilombolas e ribeirinhos são ainda mais invisibilizados que os indígenas. Quando se trata de camponeses, é ainda pior, já que parte do movimento ambientalista os vê como intrusos. Mas, nestes 4 anos, várias lideranças de assentamentos de agricultura familiar botaram seu corpo diante das milícias de grileiros e madeireiros para defender a floresta e outros biomas.

Para colaborar com o debate da transição, SUMAÚMA traz as vozes de ribeirinhos, quilombolas, camponeses agroecológicos e lideranças de movimentos sociais da Amazônia.


Socorro do Burajuba

Meu nome é Socorro, conhecida como Socorro do Burajuba, liderança quilombola do município de Barcarena, no estado do Pará. Espero que o presidente Lula, ao assumir, em janeiro de 2023, olhe para a população de Barcarena, de Abaetetuba e das ilhas do estado do Pará. Aqui a gente tem problemas de contaminação. Metais pesados no sangue, e não podemos mais plantar, colher, vender. As novas gerações nascem e morrem, e todo dia nós morremos um pouco com esse veneno de metais pesados das mineradoras no sangue.

Espero que o senhor, presidente Lula, ao assumir, em janeiro, converse com o prefeito e com o governo do estado para agilizar um grande hospital no município de Barcarena, com médicos especialistas. É urgente um toxicologista para ler os nossos exames, passar remédios, fazer exames de imagem nas pessoas, para que a população da floresta possa ter gerações futuras.

Se isso não acontecer, será possível os quilombolas entrarem em extinção? Por isso pedimos a sua atenção e urgência nesta pauta. Outra pauta é a regularização fundiária das comunidades quilombolas no município de Barcarena. Precisamos da regularização fundiária. Trazemos mais uma pauta: nós, população hídrica contaminada, da comunidade quilombola de Burajuba, queremos que o presidente Lula compre uma terra. O município de Barcarena tem terra, mas tem que ser longe da empresa [da bacia de rejeitos da mineradora Hydro, onde foram encontradas tubulações que despejavam resíduos da mineração nos rios Murucupi e Pará], onde possamos viver com as nossas atividades, para dar continuidade à nossa atividade agrícola. Para que possamos ser a nossa identidade. Nós queremos a nossa identidade de volta.


Erasmo Theófilo

A gente espera, senhor presidente, que seu governo seja mais humano e trabalhe para os pobres, que o elegeram. Que seja um governo voltado principalmente para a reforma agrária, para o fortalecimento do Incra na nossa região da Amazônia, para o fortalecimento do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis]. O Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] precisa ter, de novo, funcionários mais humanos, que saibam lidar com as comunidades. Nós tínhamos isso no seu governo, e é isso que esperamos de novo.

Esperamos que o senhor venha olhar para a nossa região, principalmente entre Altamira e Anapu. Existe já um projeto ali que causou bastante dano para nossa região e ainda causa, que é [a hidrelétrica de] Belo Monte. Esperamos que o senhor venha salvar nossa região e impedir a destruição definitiva que pode vir a acontecer com a implantação do projeto satânico chamado Belo Sun. Esse sim irá contaminar nossos rios, nosso povo, nossas florestas e destruir de vez esta região. Esperamos que o senhor venha sentir o que é a Amazônia.

Eu te falo, presidente, de todo o coração. A Amazônia tem que ser preservada, tem que ser conservada, e tem que ser respeitado o direito do povo da Amazônia. Não podemos ser celeiro do sul e sudeste. Eles querem vir para cá, destruir nossa região, plantar soja, fazer megaprojetos, e que se dane a Amazônia, a floresta e o povo nela. Antes de eles chegarem, nós aqui já estávamos, e queremos ficar. Mas também queremos ter condições. Queremos ter o nosso desenvolvimento, mas o desenvolvimento tem que estar lado a lado com a conservação do meio ambiente.

Erasmo Theófilo é camponês e agricultor de Anapu, Pará (Amazônia), terra de extremo conflito agrário. Defensor dos direitos humanos e da Amazônia em pé,  vive no momento refugiado com sua família pelas ameaças que recebem desde o início do governo Bolsonaro


Josilana Santos

Sou Josilana Santos, ativista quilombola, feminista, ativista cultural, negra da Amazônia. Acima de tudo, uma mulher resistente, como a grande maioria das mulheres negras deste país.

Espero muito, enquanto ativista política e social, que esse governo que se iniciará a partir de janeiro possa efetivar políticas públicas de equidade racial.

O último processo eleitoral mostrou o quanto o racismo, a misoginia, a xenofobia e todas as formas de preconceito e discriminação estão entranhados nos alicerces da sociedade brasileira. É preciso pensar uma política afirmativa com equidade. Nós precisamos olhar as diferenças, onde houve avanços e, principalmente, onde houve retrocessos.

Espero o governo da esperança, e a primeira ação urgente é sentar e planejar a retomada da regularização fundiária das terras quilombolas. Ela é fundamental neste país, porque negros e negras estão morrendo por defender seus territórios. Quilombolas estão sendo expulsos. Nós precisamos da efetivação de uma política de garantia dos direitos étnico-territoriais da população negra, quilombola e tradicional do nosso país.

Vivemos de ações por dias melhores, e agora devem ser ações “nós por nós”. Com muita urgência, precisamos da retomada da [Fundação] Palmares para as mãos do povo preto. É quem vai pensar e construir uma política afirmativa para este país.


Jackson Dias

Uma das primeiras coisas que o presidente Lula deve fazer é ampliar a fiscalização na Amazônia para frear o desmatamento a partir do garimpo ilegal e da pecuária. Outras medidas importantes e estruturais são a criação da política nacional de direitos dos atingidos por barragens, o fortalecimento da agricultura familiar e o fortalecimento de órgãos como a Funai [Fundação Nacional do Índio] e o Incra para criar projetos de assentamento e também homologar terras indígenas.


Ageu Lobo

Nossa expectativa em relação ao governo Lula é que ele possa fortalecer o Incra e o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade], para que seja feita a retirada dos invasores dos nossos territórios, coisa pela qual as comunidades tradicionais vêm lutando há muitos anos, sem receber respostas. Esperamos também que o governo gere uma economia para essas populações, para que possamos juntos lutar melhor ainda em defesa do rio e das florestas. Nossa expectativa é essa, principalmente agora, com a criação do Ministério dos Povos Originários.


Marcelo Corrêa

O que nós esperamos do novo governo? Esperamos a valorização da educação e principalmente a valorização da cultura do povo quilombola. Sabemos da necessidade que existe porque passamos quatro anos esquecidos, massacrados pelas políticas de um governo que não tinha compromisso com as comunidades quilombolas.

Precisamos, primeiro, colocar pessoas comprometidas na Fundação Palmares, para que venha com políticas públicas direcionadas à melhoria da qualidade de vida do povo tradicional, que é o povo quilombola. O nosso povo tem terra. Precisamos da legalização das terras para a gente poder correr atrás de projetos que possam melhorar a qualidade de vida do nosso povo, que foi massacrado com a falta de políticas públicas voltadas para isso.


Antônia Martins

Primeiramente, é um alívio a vitória do presidente Lula, embora saibamos que temos um desafio enorme como Brasil, como nação, como região, ainda mais neste primeiro ano. Esperamos que Lula cumpra seu compromisso com as comunidades da Amazônia: o fim do garimpo ilegal em terras indígenas e protegidas. Outra questão muito importante para a região é a saúde. A Amazônia tem sofrido muito, desde o tempo da covid-19, com filas de espera para outros tratamentos. O presidente Lula precisa ter sensibilidade para a resolução desses problemas.

Mais do que isso, o governo do PT tem uma dívida com os povos da Amazônia, a dívida dos grandes projetos feitos nos governos anteriores e que a gente viu que não deram certo. É preciso que nós, da Amazônia, reafirmemos ao presidente Lula que esse tipo de modelo [de desenvolvimento] não dá certo e que é preciso continuar ouvindo as comunidades, o nosso povo, os ribeirinhos, os indígenas, as mulheres e os jovens dessa Amazônia tão diversa. Quando falamos da Amazônia, não estamos falando apenas das comunidades territoriais (povos indígenas e ribeirinhos), mas também de uma Amazônia urbana, para onde se mudaram até facções criminosas. É muita coisa para resolver. Nós confiamos na capacidade política do presidente Lula, mas sempre lembrando que é preciso ouvir os povos da Amazônia.

Antônia Martins faz parte do Movimento de Mulheres de Altamira e da Fundação Viver, Produzir e Preservar, de Altamira, Pará (Amazônia)


João de Barros

Eu me chamo João de Barros, sou do Quilombo do Ambé, estado do Amapá, e o que mais desejo é que na próxima gestão a gente retome as atividades do Incra na sua integralidade, para que o órgão volte a trabalhar no processo de certificação das comunidades, que é um dos pontos-chave para garantir investimentos em políticas públicas para os quilombolas. Para que os nossos sejam vistos [incluídos] no orçamento. Para que os nossos, de fato, não precisem recorrer aos órgãos de controle e fiscalização para ter acesso a coisas básicas, como saúde, educação e acesso à cidade.


Ticynha do Quilombo

Olá, me chamo Patrícia, mas no meio cultural sou conhecida por Ticynha do Quilombo. Falo aqui do Amapá, do Quilombo Alto Pirativa, no município de Santana. O que esperar enquanto mulher preta, quilombola e ribeirinha do meu estado? O que esperar do governo Lula? Nós, que estamos na ponta, precisamos que Lula continue o que ele sempre fez lá atrás. Ele deu vez e deu voz para as comunidades. Que as políticas públicas realmente cheguem na ponta, cheguem para as comunidades que estão longe da capital. É disso que precisamos: que as políticas públicas cheguem de verdade, 100%, para essas comunidades.

Um forte abraço e minhas saudações quilombolas diretamente do estado do Amapá para todo o Brasil.


João Rodrigues Filho

Meu nome é João Rodrigues Filho, ribeirinho, extrativista. Moro na região das ilhas, na Ilha Grande. Eu espero que o novo governo seja mais amplo para a agricultura, a saúde, a educação e os programas sociais. Nós, ribeirinhos, precisamos de apoio, de uma linha de crédito ampla, e precisamos ter condições de trabalhar, plantar e multiplicar nossa renda. Nós, aqui, trabalhamos com o açaí, o cacau, a piscicultura, a avicultura, entre outras atividades.

Nossa expectativa com o novo governo é que a gente esteja incluído nos programas sociais, em tudo aquilo a que temos direito, para continuar trabalhando, continuar a ter uma vida digna, uma vida saudável e poder dar conforto para nossa família.

Nós precisamos de ampliação de projetos, da nossa renda familiar, para ter recursos para continuar nessa atividade de plantar e colher. Sou aposentado, mas sou ativo ainda nas minhas tarefas de plantas, de criar e de multiplicar. Isso é o que esperamos do novo governo que está vindo. Que chegue a ele o que nós precisamos imediatamente: que os nossos jovens possam voltar à universidade e que tenhamos educação, saúde e segurança de qualidade. É isso que a gente espera do novo governo.


Daniel Ramos

Eu me chamo Daniel Ramos, sou quilombola do Quilombo do Curiaú, em Macapá, estado do Amapá. O que espero do governo Lula é que coloque à frente da Fundação Palmares alguém que valorize o nosso costume e as nossas tradições e que se valorize como pessoa preta. Que não venha a acontecer o que aconteceu no último governo [o titular era Sérgio Camargo, que não reconhecia o racismo no Brasil]. A Fundação Palmares é a nossa maior fundação, não é? E a gente espera muito que quem for para lá nos valorize de verdade e dê a posse e os títulos das terras de áreas quilombolas […] de todo o Brasil.

A gente não sabe o dia de amanhã, como dizem os mais velhos. Que nos dê essa titulação, né? Que valorize as nossas comunidades tradicionais, os povos quilombolas, que muito já fizeram por esse torrão chamado Brasil.

Fica aqui a nossa admiração. Espero que chegue aos órgãos competentes, ao presidente Lula, que sempre olhou com carinho para a população preta. Que chegue até ele esse nosso comunicado de valorização e de pertencimento do povo preto do Brasil.


Ana Rita Picanço da Silva

Eu, Ana Rita Picanço da Silva, do Quilombo Conceição do Macacoari, em Macapá, estado do Amapá, venho aqui pedir ao presidente eleito, Lula, que nesse novo governo, que se inicia em 2023, possamos ter a garantia dos nossos direitos adquiridos há tantos anos, que estão escritos na Constituição. Em especial, a titulação dos nossos territórios para que possamos viver e conviver em paz, na legalidade que nos é de direito na Constituição. Espero poder contar com essa pauta, que ela seja garantida na discussão dos territórios que ainda não foram titulados, e que os que foram possam manter a garantia desse direito.


Edel Moraes

Com a eleição do presidente Lula e o anúncio da criação do Ministério dos Povos Originários, a nossa expectativa é que de fato o ministério seja conduzido por alguém que represente os interesses dos povos originários do Brasil.

Para o meu querido Marajó, eu desejo a revogação do plano Abrace o Marajó [plano lançado por Damares Alves que os marajoaras afirmam ter sido manobra política sem atender a quem precisava de fato], que nada mais foi do que o abraço da serpente construído sem a participação dos povos e comunidades locais. E desejo também que nesse momento o presidente Lula tenha verdadeiramente um plano de ação para o Marajó com o envolvimento de toda a comunidade marajoara.

Para nós, enquanto comunidades tradicionais extrativistas, desejamos a regularização fundiária dos nossos territórios já demarcados e a demarcação daqueles que ainda aguardam esse processo. Então, é um momento de alimentar a esperança, reforçar a luta e seguir fortalecendo a democracia do nosso Brasil.

Que o presidente possa resgatar todos os espaços de participação que foram destruídos durante esses 4 anos. Um Brasil de esperança é o que desejamos neste momento.


Vercilene Dias

Nós, enquanto quilombolas, esperamos que o presidente Lula abra um espaço de diálogo com a nossa comunidade, pois esse espaço foi restringido para nós durante os últimos 4 anos. Só foi possível dialogar com a estrutura do governo Bolsonaro depois de uma decisão judicial. A gente espera que se abra esse espaço de diálogo para que possamos trabalhar juntos na reconstrução da política pública voltada para a população quilombola na reestruturação dos órgãos. E que essa reestruturação venha com uma disponibilização orçamentária para a continuidade da política de titulação de territórios quilombolas.


Ísis Tatiane

Eu sou Ísis Tatiane, falo do Quilombo do Curiaú, no estado do Amapá. Estou [sou] presidente da Associação de Mulheres do meu quilombo, e o que espero de Lula a partir de 2023 é que seja um governo de esperança e de verdadeiras mudanças, tanto no campo social como nos campos econômico, cultural e climático. Quero muito que o presidente Lula nomeie uma pessoa de responsabilidade, de visão na Fundação Palmares, que faça acontecer o que for preciso. Só assim poderemos dar continuidade ao processo de titulação e certificação dos quilombos, garantindo o direito de sobrevivência do povo que está dentro desse território. É preciso ter garantias de que esse território lhe pertence e de que as futuras gerações herdarão esse bem, garantido pela Constituição Federal.


Antônia Melo

Ratificamos a proposta do governo Lula de desmatamento zero para a Amazônia. E também um orçamento forte e pessoas qualificadas para os órgãos de fiscalização, como o Ibama, o ICMBio, a Funai e o Incra.

Que não haja mais nenhum projeto de desenvolvimento destruidor para os rios da Amazônia e seus povos. Queremos o cancelamento do contrato do Incra com a mineradora Belo Sun no Projeto de Assentamento Ressaca, na Volta Grande do Xingu. Implantar e implementar, como política pública, energia solar para as comunidades tradicionais e comunidades empobrecidas do campo e da cidade. A Amazônia e seus povos clamam por justiça, por respeito e por dignidade humana.

 


Daniela Silva

Uma das primeiras ações do presidente Lula para a nossa região deve ser implementar políticas públicas enérgicas voltadas para crianças, adolescentes e juventude, que são muito impactados por grandes projetos de infraestrutura, a exemplo da usina de Belo Monte. Existe uma geração de meninos e meninas que foram empurrados para as periferias das cidades amazônicas e hoje não se sentem pertencentes a esse território. É preciso implementar políticas públicas a partir da cultura, da educação e da cidadania, que tenham como ponto central a reconexão, o resgate do sentimento de pertencimento amazônico para essa geração que teve seu direito violado por um grande empreendimento.


Claudiana Lírio

Sou Claudiana Lírio, do Quilombo Bom Jardim, em Santarém, Pará. Nós queremos que voltem a regularização fundiária e os investimentos em questões básicas, como saúde e educação. Esse atual governo não nos representa. Nós, quilombolas universitárias, gostaríamos que o senhor presidente investisse novamente na política de Bolsas Permanência [voltadas para indígenas e quilombolas], porque sem elas é quase impossível se manter no espaço da universidade. Acaba que estamos disputando entre nós essas bolsas, quando na verdade era para que todos tivéssemos garantia de acesso à educação pública e de qualidade. Desejamos um excelente mandato para o senhor presidente Lula! Acreditamos em você.


Gilvania Ferreira

Sou Gilvania Ferreira, pedagoga e educadora popular, trabalho na direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do estado do Maranhão. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, acreditamos na possibilidade de diálogo com os movimentos sociais populares, com os povos originários, com as comunidades tradicionais da Amazônia. Esse território tão massacrado, que sofre tantas violências dos posseiros, com as grilagens, com o desmatamento, com as queimadas e com a invasão das terras indígenas pela mineração ilegal. Uma área que também sofre com os grandes projetos instalados na nossa região.

Acreditamos que com o presidente Lula esse diálogo possa ser estabelecido, e as demandas dos povos locais possam ser atendidas. Como a demarcação dos territórios dos povos indígenas e quilombolas o reconhecimento da posse da terra para os posseiros que lutam há anos, para que eles possam ter terra, trabalho, moradia e vida, e também que nós possamos ter uma agricultura familiar forte, com agroecologia e respeito ao nosso modo de vida. A Amazônia é fundamental para o presente e o futuro do nosso Brasil.


Áurea Sena

Eu me chamo Áurea Sena, sou moradora do primeiro quilombo a ser titulado no Brasil, na comunidade do Boa Vista. Sinto orgulho de ter toda a minha história praticamente dentro do quilombo. Espero que o governo Lula possa olhar mais para nossos povos tradicionais, quilombolas, indígenas, ribeirinhos e caboclos. Para que possamos ter vez e voz dentro do nosso Brasil e deste governo. Uma das primeiras ações que eu gostaria de ver são projetos para nossa juventude, para que possamos levar nossas tradições a todo lugar, para que as pessoas possam realmente conhecer nossa história. Seja bem-vindo, presidente. O povo quilombola está com você.

Áurea Sena, do Quilombo do Boa Vista, é integrante do Engajamundo em Oriximina, no estado do Pará, na Amazônia

Fizeram as entrevistas desta reportagem: Elisa Estronioli, Raquel Rosenberg, Catarina Barbosa, Hellen Joplin, Letícia Leite

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