Território, vida, corpo. As palavras se interligam quando as mulheres indígenas discutem seus direitos. Elas se chamam de mulheres-terra, mulheres-semente, guerreiras da ancestralidade. Defensoras da vida, do meio ambiente e de seus territórios, estão cada vez mais organizadas para reivindicar seus direitos também a políticas públicas que protejam seus corpos de inúmeras violências. Hoje, todos os cargos centrais ocupados por indígenas no governo federal estão nas mãos de mulheres. Durante o 19º Acampamento Terra Livre (ATL), realizado entre os dias 24 e 28 de abril, em Brasília, capital federal, as indígenas organizaram plenárias específicas para discutir o papel da mulher no movimento e suas reivindicações.
Muitas lideranças, de diferentes povos, já iniciaram os debates também sobre candidaturas indígenas femininas nas disputas eleitorais de 2024 e 2026. Como lembrou a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, a criação da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), em 2021, foi crucial para unificar e “demarcar” a luta dessas guerreiras ancestrais. Em plena pandemia de covid-19, foram as mulheres, com sua marcha, que conseguiram deter o julgamento do marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF). As mulheres indígenas permaneceram sete dias acampadas em Brasília em protesto contra o julgamento, em 2021. A tese do marco temporal considera que somente podem ter direito a territórios os indígenas que os ocupavam no momento da promulgação da Constituição de 1988. Neste ano, a marcha está programada para setembro. O julgamento do marco temporal será retomado pelo STF possivelmente em junho.
Mulheres Kayapó em ritual na tarde do segundo dia do Acampamento Terra Livre de 2023. Foto: Matheus Alves/Sumaúma
“Nós não recuamos nenhum passo, e nem vamos recuar. É um momento histórico, onde nós, mulheres indígenas, por meio da Bancada do Cocar, estamos hoje dentro do poder Executivo, dentro do Congresso e estamos lutando também para ocupar o Judiciário. Isso é aldear a política. Precisamos romper o machismo instalado em nosso país. Precisamos romper com a violência que segue estuprando e matando as nossas meninas.”
Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, durante a plenária ‘Mulheres Indígenas’, no ATL 2023
Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas do Brasil, durante a plenária ‘Parentíssimos e Parentíssimas: Autoridades Indígenas no Movimento e no Governo’, realizada no segundo dia da 19ª edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília. Foto: Fernando Martinho/Sumaúma
As ministras Sonia Guajajara (Povos Indígenas), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Daniela Carneiro (Turismo), a deputada federal Célia Xakriabá, a representante indígena Watatakalu Yawalapiti (de cocar amarelo) e outras lideranças na plenária ‘Mulheres Indígenas’, realizada na 19ª edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília. Elas seguram a faixa da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). Foto: Fernando Martinho/Sumaúma
Joenia Wapichana assina ofício de proposta de expedição de portaria declaratória da Terra Indígena Sawré Muybu, em reunião com comitiva dos Munduruku, na FUNAI. Durante o ATL, povo Munduruku conseguiu avançar alguns passos no processo de reconhecimento de seu território, que estava paralisado desde 2018. Foto: Fernando Martinho/SUMAÚMA
“Temos potencial e capacidade de dizer como queremos caminhar, abrindo a porta para as outras mulheres. Fui a primeira mulher indígena advogada e a primeira mulher indígena a ser deputada federal. As mulheres indígenas estão fazendo história no Brasil.”
Joenia Wapichana, presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), ex-deputada federal
Mulheres indígenas na primeira marcha da 19ª edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília. O ATL 2023 teve como slogan ‘O futuro indígena é hoje. Sem demarcação não há democracia!’. Foto: Fernando Martinho/Sumaúma
“A primeira pessoa que o governo Bolsonaro atacou foi uma mulher. E as pessoas perguntam: quem foi essa mulher? Foi a terra. Se a terra sofre injustiça, nós, mulheres, também sofremos.”
Célia Xakriabá (PSOL-MG), deputada federal e presidenta da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais, na Câmara dos Deputados
Tuire Kayapó, na abertura da 19ª edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília. Foto: Fernando Martinho/Sumaúma
A ativista, comunicadora e influencer Samela Sateré Mawé, referência para a juventude indígena, fala em carro de som no fim da primeira marcha de protesto na 19ª edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília. Foto: Fernando Martinho/Sumaúma
“A comunicação indígena é uma ferramenta de luta e resistência, importante meio de desmistificação, desconstrução, descolonização e denúncia da pauta indígena e ambiental.”
Samela Sateré Mawé, da equipe de comunicação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que organizou a realização do ATL 2023, e colaboradora de SUMAÚMA
Mulheres Kayapó durante ritual no segundo dia do Acampamento Terra Livre de 2023. Foto: Matheus Alves/Sumaúma
O presidente Lula, ao lado da ministra Sonia Guajajara, do ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social) e da presidenta da Funai, Joenia Wapichana, após assinar a homologação de seis terras indígenas no encerramento do Acampamento Terra Livre de 2023. Foto: Matheus Alves/Sumaúma
“Venho no ATL há 13 anos. Se 13 anos atrás me falassem que nós teríamos uma ministra, uma deputada, que teríamos a presidência da Funai e secretários estaduais indígenas, muitos de nós estaríamos descrentes. Mas tudo isso está acontecendo, diante de nossos olhos.”
Narubia Werreria, secretária dos Povos Originários e Tradicionais do estado do Tocantins
Narubia Werreria, secretária dos Povos Originários e Tradicionais do estado do Tocantins, falou na plenária organizada para discutir a participação de indígenas nas estruturas de governo, no segundo dia da 19ª edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília. Foto: Fernando Martinho/Sumaúma
Revisão ortográfica (português): Elvira Gago
Tradução para o espanhol: Meritxell Almarza
Tradução para o inglês: Mark Murray
Edição de fotografia: Marcelo Aguilar, Mariana Greif e Pablo Albarenga