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Sumaúma: Jornalismo do Centro do Mundo
Edição 16
quinta-feira, 11 maio, 2023
É preciso defender aqueles que defendem a vida
Querida comunidade,

Quem defende da morte aqueles que defendem a vida? Essa pergunta incomodou a cabeça da equipe de SUMAÚMA nos últimos dois meses, enquanto a repórter paraense Catarina Barbosa e eu percorríamos a história de defensores dos direitos humanos ameaçados de morte no Pará, o estado do Brasil onde mais se mata em conflitos por terra. Escutamos relatos de pessoas que encontraram covas abertas com seus nomes no próprio quintal, tiveram armas apontadas para sua cabeça na frente de filhos e netos, precisaram fugir de suas casas e largar os alimentos que plantaram com as próprias mãos para viver longe de tudo e de todos, capturadas em uma realidade de prisão e medo, enquanto seus algozes seguiam livres e destruindo tudo. É gente que luta com o próprio corpo contra inimigos poderosos para manter a floresta em pé – e, assim, ajuda a garantir a sobrevivência de todas e todos, a vida de pessoas humanas e não humanas. Mas que foi abandonada pelo Estado brasileiro. E humilhada.

Na reportagem especial de SUMAÚMA que abre esta newsletter, mergulhamos no mundo do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), uma política federal criada ainda no primeiro governo Lula, mas que em 2019 passou a ser gerida, no Pará, pelo governo estadual. O principal objetivo do programa seria manter as pessoas seguras, em suas casas, lutando contra os invasores que querem saquear seus territórios e obter lucro com a floresta. Em situações mais graves, em que o risco de morte é iminente, o programa deve retirar os defensores de suas casas e colocá-los em residências provisórias, em uma cidade mantida em sigilo, até que o perigo passe e seja possível voltar. No papel, uma política pública perfeita. Na prática, um programa de direitos humanos que viola os direitos humanos.

É aí que a humilhação ganha contornos ainda mais cruéis, porque parte do próprio Estado. As famílias são colocadas em casas que alagam e onde o esgoto sobe pelos canos; convivem com geladeiras vazias, porque a verba da ajuda de custo do programa não chega ao fim do mês; e precisam suplicar, com dor, para ser levadas ao médico em cidades onde não conhecem nada. Aqueles que defendem o planeta não são defendidos por quase ninguém. Mas, ainda assim, continuam na luta. E querem agora discutir, junto ao governo, maneiras de garantir que sejam tratados com respeito.

O governo federal afirmou a SUMAÚMA que vai reformular a política de proteção aos defensores neste mandato. Algo urgente, mas que não funciona por si só. É preciso investigar, julgar e punir quem destrói os corpos e a alma da floresta, além de retomar a reforma agrária e resolver com celeridade os conflitos que escalam no campo. Isso também passa pela demarcação de terras indígenas.

É preciso aprender com os povos originários – e com quem defende a floresta – a construir um novo mundo.

Um mundo repleto de vida a todas, todos e todes.

Talita Bedinelli
Cofundadora e editora de SUMAÚMA
LEIA AQUI
Os defensores não defendidos
Casas que alagam, insegurança alimentar, falta de atendimento à saúde e nenhuma perspectiva de futuro – essa é a rotina das pessoas que protegem a Amazônia de inimigos poderosos. Ameaçadas de morte e sem a cobertura efetiva dos programas oficiais de proteção, elas vivem em situação de absoluta indignidade
CATARINA BARBOSA (BELÉM/PA); TALITA BEDINELLI (SÃO PAULO/SP); FOTOS: ALESSANDRO FALCO
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Ao atrasar o reassentamento da população tradicional expulsa pela hidrelétrica, Norte Energia se beneficia de uma campanha articulada entre ruralistas da região de Altamira e senadores da base bolsonarista
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SUMAÚMA, BRASÍLIA (DF)
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SUMAÚMA, BRASÍLIA (DF)
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SUMAÚMA, BRASÍLIA (DF)
A violência é contra a escola
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Rádio SUMAÚMA
O avanço dos pastos sobre os povos isolados, a rede de cineastas indígenas e outras histórias
Uma seleção de notícias sobre a Amazônia para ser lida em dois minutos
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