Tenho 21 anos e participei da primeira edição do programa de jornalismo Micélio-SUMAÚMA. Sou amazônida paraense nascida no distrito de Vitória da Conquista, Rio Gelado, no município Novo Repartimento. Cheguei ao Projeto de Desenvolvimento Sustentável Irmã Dorothy, em Anapu, no dia 16 de julho de 2022, depois de viajar a noite toda com minha família, desde o Gelado, em busca de uma vida melhor – para plantar e colher. Vivo na zona rural com minha mãe, meu pai, três irmãs mais novas e um irmão mais velho. Desde agosto de 2024, sou aluna do curso técnico em agropecuária do Instituto Federal do Pará, em Castanhal. Quando estou em Anapu, acordo cedo para fazer a merenda, adoro ler e, se possível, fico horas admirando o céu e a floresta. Sonho em mudar o mundo, mas ainda não sei como. Este filme-poesia é uma tentativa de compartilhar o desconforto e o inconformismo ao ver queimar, na Amazônia, nossos próprios sonhos.
A lua vermelha simboliza tristeza para o lado de cá.
Por aqui, o céu sempre é cinza em todos os cantos que você olhar, carregamos em nossos pulmões um ar que outrora já foi limpo e que agora nos traz sérios riscos.
Pasto seco, rio seco. E com a escassez de água no poço o povo grita por socorro.
Reclamam e reclamam de que, até mesmo parado, dentro de casa, o sol é impetuoso, e falam um pouco de suas histórias: lembro-me bem que na minha época, quando era garoto e trabalhava o dia todo, o sol não era tão escaldoso assim.
Acho que somos doidos por sonhar em sermos grandes fazendeiros. Derrubar milhões de alqueiros para plantar capim e acabando com uma floresta densa.
Se a fonte da vida é a água, por que destruímos o que faz cair a água? Ao invés de admirarmos o gado em um pasto seco e sem nutrientes para o aumento do leite, por que não admirarmos as árvores em pé?
Nos conformamos quando os urubus vêm e comem os bois que morrem por causa da seca, mas não nos conformamos em ver uma floresta em pé.
Somos tão maldosos e ambiciosos que nos prontificamos a destruir o pouco do verde que ainda existe do lado de cá.
Nos fundos de um lote em Anapu, atrás do jirau, a terra é preparada para o plantio e a floresta queima ao longe. Dezembro de 2023
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O Programa de Coformação de Jornalistas-Floresta Micélio-SUMAÚMA foi iniciado em maio de 2023. No total, 14 pessoas do Médio Xingu (quatro Indígenas, três Beiradeiros, uma Quilombola, uma camponesa, uma pescadora, uma enfermeira de saúde indígena e jovens urbanos de Altamira) participam de encontros na floresta e na cidade, são acompanhadas por “sementoras” – jornalistas seniores de SUMAÚMA – e também as acompanham, porque a coformação é real e conjugada no cotidiano.
Nesta crônica de percepção crítica e poética sobre o lugar em que vive na zona rural de Anapu, no estado do Pará, a jornalista-floresta Maria Soares teve a sementoria de Thiago Leal e Viviane Zandonadi.
Coordenado por Raquel Rosenberg, cofundadora do Engajamundo, o método pedagógico do Micélio-SUMAÚMA deliberadamente escapa de qualquer ortodoxia. O programa, idealizado por Eliane Brum (também responsável pela supervisão e pelo conteúdo) e Jonathan Watts, mantém o rigor, a responsabilidade e a precisão do jornalismo tradicional.
Micélio-SUMAÚMA conta ainda com a consultoria de cuidados da psicanalista Ilana Katz e a produção de Thiago Leal. A administração financeira é de Mônica Abdalla, e Marina Borges é a assistente administrativo-financeira. Micélio-SUMAÚMA é apoiado por Moore Foundation e Google News Initiative.
Edição de vídeo: Maria Soares e Lucas Bambozzi
Sementoria: Viviane Zandonadi e Thiago Leal
Edição de fotografia: Lela Beltrão
Checagem: Plínio Lopes
Revisão ortográfica (português): Valquíria Della Pozza
Tradução para o espanhol: Meritxell Almarza
Tradução para o inglês: Diane Whitty
Montagem de página e acabamento: Natália Chagas
Coordenação de fluxo editorial: Viviane Zandonadi
Editora-chefa: Talita Bedinelli
Diretora de Redação: Eliane Brum