Jornalismo do centro do mundo

Cacique Raoni. Imagem: Beptuk Metuktire

O cacique Raoni representa pelo menos 6 décadas de luta pelos povos originários e pela floresta amazônica. Liderança dos Kayapó (Mẽbêngôkre) e um dos principais líderes indígenas do Brasil, ele lutou pela demarcação das terras de seu povo e de outros povos originários brasileiros ainda durante a ditadura empresarial-militar (1964-1985). No final da década de 80, saiu em turnê pelo mundo, ao lado do cantor Sting, para denunciar a destruição da floresta, e ganhou notoriedade internacional, mobilizando a imprensa do mundo para a cobertura do “Primeiro Encontro dos Povos Indígenas do Xingu”, em Altamira, no Pará, evento que buscava dar visibilidade para a luta contra a construção do Complexo Hidrelétrico do Xingu (que incluía a usina Kararaô).

O projeto acabou abandonado devido à forte pressão, mas ressuscitou durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Kararaô virou a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, inaugurada já na gestão de Dilma Rousseff (PT), e causou enormes danos ao ambiente e aos povos-floresta, assim como à cidade e à população urbana. Trinta anos depois de sua primeira turnê internacional, em 2019 Raoni, já com mais de 90 anos (não se sabe exatamente quando ele nasceu), voltou a rodar o mundo para denunciar um inimigo maior da floresta, desta vez na forma do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro. Encontrou-se com o papa Francisco e líderes europeus, e acabou sendo indicado ao prêmio Nobel da Paz, em 2020 – o Programa Mundial de Alimentos (PMA), uma agência da ONU, acabou ganhando.

Raoni sabe bem que sua luta pela defesa da floresta é uma luta de pressão sobre os governos – de qualquer espectro político. Nesta entrevista, ele dá um recado a Lula, eleito com a ajuda dos povos originários e dos defensores da Amazônia. O líder indígena quer se encontrar com o presidente para conversar sobre suas ações do passado visando ao futuro. A pedido de SUMAÚMA, Raoni, que vive na aldeia Metuktire, na Terra Indígena Capoto-Jarina, foi entrevistado em vídeo por seus netos Beptuk Metuktire, Matsi Txucarramãe e Mayalú Txucarramãe na cidade de Colíder, no Mato Grosso. A entrevista contou com o apoio da ativista Raquel Rosenberg.

Tradução do Mẽbêngôkre (língua falada por Raoni) ao português: Beptuk Metuktire

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