Hoje nasce SUMAÚMA – Jornalismo do Centro do Mundo. É com enorme alegria, esta que é instrumento de resistência, que compartilho com vocês nossa primeira newsletter-semente. Nesta primeira edição, escolhemos escutar as mulheres do povo Yanomami, aquelas que pouco são escutadas porque não falam português nem outra língua de napëpë, porque vivem num território cada vez mais controlado pelo garimpo ilegal, porque nas poucas vezes em que as violências contra elas são expostas, emergem na narrativa de lideranças masculinas. Escolhemos escutar as mulheres Yanomami porque entendemos que SUMAÚMA nasce em um tempo de guerra, a guerra contra a natureza e seus povos que está levando o planeta à catástrofe climática e à sexta extinção em massa de espécies. Nas guerras, são as mulheres, adultas e crianças, as mais silenciadas e as que mais sofrem.
Na Amazônia, a sede de SUMAÚMA, essa guerra ganhou outra velocidade e intensidade a partir da eleição de Jair Bolsonaro, hoje candidato à reeleição. Os efeitos da política predatória do atual presidente, com o desmonte dos órgãos de proteção e de fiscalização, está desenhada a sangue, mercúrio e malária na Terra Indígena Yanomami. Crianças vomitam vermes e morrem de doenças tratáveis por falta de medicamentos.
Nossa reportagem é um mapa do que está em jogo nas eleições do próximo 2 de outubro na floresta amazônica. É um documento de denúncia tecido a partir de uma escuta cuidadosa e altamente profissional de vozes silenciadas. Para garantir essa qualidade, alcançar a palavra exata e a interpretação precisa, SUMAÚMA integrou à sua equipe duas tradutoras, uma delas Yanomami, outra uma antropóloga com 15 anos de experiência com um dos povos originários mais complexos do planeta.
A partir da perspectiva de que os reais centros do mundo são os suportes naturais de vida, SUMAÚMA escolheu Davi Kopenawa, xamã e intelectual Yanomami, como seu primeiro articulista. Para representar a resistência – ou rexistência daqueles que há mais de 500 anos resistem para existir, trazemos a vocês as mulheres gigantes de Ehuana Yaira, artista Yanomami. A arte é uma forma poderosa de resistir, por isso sempre um dos primeiros alvos de governos autoritários e fascistas. Como imagem do Diário de Guerra que se tornou o cotidiano na maior floresta tropical do mundo, mostramos como o fogo se tornou um protagonista às vésperas das eleições.
Nas próximas edições, examinaremos com mais profundidade as implicações da eleição brasileira na Amazônia, o comércio global que está levando à maior floresta tropical do planeta à destruição, os esforços para regenerar esse enclave de natureza e as negociações internacionais que prometem tanto, mas entregam tão pouco. Principalmente, porém, vamos escutar aqueles que vivem na floresta, ampliando o alcance das ideias e tecnologias que permitiram uma existência em intercâmbio com todas as outras vidas. Vamos contar a maravilha que é a floresta amazônica, porque para amar, proteger e cuidar é preciso conhecer.
Hoje, nossa pequena equipe lança esse boletim informativo trilíngue, inicialmente quinzenal, como uma semente. Só com sua ajuda ela se converterá numa árvore capaz de conectar o céu e a terra, como é descrita a sumaúma por uma de nossas conselheiras, a cacica Juma Xipaia. Lançamos também a Rádio Sumaúma, um podcast quinzenal comandando por Elizângela Baré, mulher indígena de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Ela falará ao seu ouvido sobre a cobertura de SUMAÚMA.
Nosso objetivo é ampliar nossa equipe e nossa cobertura o mais rápido possível, porque a floresta está perigosamente próxima do ponto sem retorno. Não há tempo para nada menos do que grandes ambições. Precisamos tornar nosso jornalismo influente o suficiente para trabalhar em benefício de nossa casa-planeta e do futuro (já tão presente) de nossas crianças.
Não podemos fazer isso sozinhos. Convidamos você a se juntar a nós e incentivar outras pessoas a somar seu apoio, para que possamos produzir mais conteúdo de alta qualidade desde o centro da vida na Terra. Leia nosso MANIFESTO, para saber o que pensamos e o que queremos e, se você acha que nosso jornalismo é importante, clique aqui para fazer parte da comunidade SUMAÚMA. Para vencer essa guerra que hoje perdemos precisamos de todas, todos, todes.
Obrigada por chegar até aqui com a gente.
Eliane Brum
Altamira, Médio Xingu, Pará, Amazônia, 13 de setembro de 2022.