Nossa Voz
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A anta na sala se chama petróleo
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Querida comunidade,
Entre os dias 4 e 9 deste mês de agosto, Belém se ensaia como a capital mais importante do norte do Brasil ao receber, primeiro, a sociedade civil para os Diálogos Amazônicos e, depois, os presidentes dos países que abrigam a maior floresta tropical do planeta na Cúpula da Amazônia. O objetivo é debater o desenvolvimento da região no momento em que a floresta se aproxima do ponto de não retorno – o que significa que, enfraquecida pelo desmatamento e pela degradação, perderá a capacidade de regular o clima. O problema é que há um bode gigante na sala ou, para ser mais fiel aos habitantes não humanos do bioma, uma anta, criatura muito inteligente, apesar da má fama que lhe foi dada por quem não a conhece bem. Essa anta se chama petróleo.
Gustavo Petro, o presidente da Colômbia, propôs barrar qualquer novo contrato de exploração do combustível fóssil na Amazônia. Luiz Inácio Lula da Silva, na liderança do país que é o maior produtor de petróleo da região, desconversou. Tudo indica que os demais presidentes presentes – nem todos virão – ficarão mais perto de Lula do que de Petro. Às voltas com problemas variados, membros de uma geração à qual o petróleo foi vendido como salvação, os presidentes parecem se mover tanto por questões econômicas imediatas quanto por uma subjetividade moldada pelo arrogante século 20, aquele em que tudo poderia ser resolvido pelo homem. A exceção pode ser o colombiano Petro.
Os fatos mostram que Lula, presidente do país que abriga 60% da floresta amazônica, tem as melhores cartas na mão para ser o grande protagonista internacional no momento em que o colapso climático e a extinção em massa das espécies estão no centro da pauta global por uma questão de prioridade máxima: a sobrevivência na casa-planeta. Entretanto, Lula, que ainda cultiva a certeza de que ser um bom presidente é garantir um carro na garagem, um churrasco e uma cerveja na mesa para todos, tem se equilibrado com dificuldade neste novo papel exigido por um planeta acossado por eventos extremos de uma crise climática produzida, justamente, pelo uso de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás. O presidente que até agora despontou na região com um discurso contundente de defesa das novas gerações é Petro. Mas também ele está sob forte pressão interna e pode recuar. Será muito interessante acompanhar o que acontecerá – ou o que não acontecerá – nesta cúpula realizada após o mês de julho mais quente dos últimos 120 mil anos.
Sabemos que são temas difíceis, mas fazer parte deste debate não é opcional. A menos que você esteja no time das pessoas que preferem assistir à destruição da vida sem fazer nada para impedi-la. Nesse sentido, o melhor exemplo vem da sociedade civil do Equador, que lutou – muito – para conseguir realizar um plebiscito sobre a exploração de petróleo na Amazônia. Em 20 de agosto, os equatorianos tomam sua decisão pelo voto, junto com a escolha do próximo presidente. O tema é um dos muitos que estarão em debate nos Diálogos Amazônicos, que se iniciam nesta sexta-feira, quando o protagonismo estará com a sociedade organizada. Espera-se que seja uma discussão à altura da emergência do momento.
SUMAÚMA estará presente. Acompanhem – em nossas três línguas – o cotidiano dos Diálogos Amazônicos e da Cúpula da Amazônia pelas nossas redes sociais e pela nossa plataforma.
Seguiremos contando a vocês, com o melhor jornalismo, o que é preciso saber para salvar nossa casa-planeta – e para corresponder à responsabilidade com as novas gerações.
Eliane Brum
Idealizadora e diretora de SUMAÚMA |
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