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Sumaúma: Jornalismo do Centro do Mundo
Edição 27
quarta-feira, 11 outubro, 2023
Por quem as águas da Amazônia secam
Eliane Brum, Médio Xingu, Altamira, Amazônia, Brasil
Semeadora e diretora de SUMAÚMA

Corpos enfileirados de botos, corpos em sofrimento pelo aquecimento das águas, corpos daqueles que nada podem fazer contra nosso desejo de destruição. A seca extrema na Amazônia é consequência da sobreposição do El Niño ao aquecimento global produzido por ação humana. A morte inédita dos botos nessa quantidade, cujas causas estão sendo estudadas, pode ter sido provocada pelo colapso climático. Não é algo repentino, mas algo previsto pelos indígenas e pelos cientistas há décadas – previsto, avisado, gritado, mas não escutado. Não se trata de apocalipse nem de tragédia, muito menos de fatalidade. As pessoas humanas não estão apenas expostas a forças naturais muito maiores, como no passado distante. As imagens que vemos nas telas de nossos aparatos tecnológicos são espelhos – o reflexo da produção de violências contra a natureza, da ação extrativa da floresta e dos outros biomas. É a obra que uma minoria de pessoas humanas foi capaz de fazer em pouco mais de dois séculos, quando a “revolução industrial” (nome que aprendemos nos livros e nas aulas de história) passou a arrancar da terra em proporções crescentes os combustíveis fósseis – carvão, gás e petróleo. E aquilo que deveria ter continuado embaixo da terra, ao ser extraído das profundezas, se transformou em emissor de dióxido de carbono, o principal gás do efeito estufa. E assim, nós, humanos, passamos a produzir o aquecimento do planeta, a alterar o clima e a forma da Terra, a única casa que temos e que dividimos com todos os outros milhões de espécies. E então chegamos a esse momento e nos deparamos com os corpos dos botos.

Os botos podem ser apenas a parte mais visível do horror. Milhões de outras pessoas não humanas, das abelhas aos pássaros, dos peixes aos sapos, das onças aos macacos, sofrem neste momento – e muitas já morreram ou morrerão. Milhares de indígenas, ribeirinhos e quilombolas, povos tradicionais da floresta, estão em intenso sofrimento, parte deles exilados por rios secos. Na natureza se vive em conexão e se morre em conexão, porque tudo é interdependente.

Aqueles que destroem a natureza e causam o aquecimento global têm nome e com frequência CNPJ – e, mesmo diante da catástrofe, seguem engolindo mundos na floresta. Se quisermos que essas cenas não se repitam, cada vez com mais horror, cada vez com mais dor, cada vez com mais mortos, será preciso olhar para os responsáveis pelo aquecimento global. E lutar para barrá-los. Não amanhã – agora.
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