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Edição 20 |
quinta-feira, 06 julho, 2023 |
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Nossa Voz
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O valor da floresta não pode ser determinado pelo mercado
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Quem pode duvidar que a floresta amazônica vale mais viva do que morta? Que conjunto insano de valores considera mais valiosos troncos mortos, na horizontal, do que árvores vivas e verticais? Como pode fazer sentido econômico acabar com um dos estabilizadores climáticos mais importantes do mundo, que comporta imensas bombas de água e sistemas de refrigeração naturais, por causa de um dinheiro rápido, um hambúrguer ou uma gargantilha de ouro?
As respostas a essas três questões são os capitalistas, o capitalismo e a lógica do livre mercado. Acrescente ainda a antiga mentalidade da expansão colonial, o nacionalismo da era da ditadura, o neoliberalismo econômico e uma pitada do machismo bolsonarista, e você terá a receita perfeita para a destruição da floresta e a instabilidade climática.
Não é de estranhar que exista um ceticismo considerável sobre a onda de interesse nos créditos de carbono da Amazônia. Essencialmente, eles são uma tentativa de resolver o problema criado pelos mercados de capitais com – adivinhe! – outro mercado de capitais. Para os apoiadores, os créditos de carbono são uma maneira de canalizar mais dinheiro para as comunidades amazônicas a fim de proteger, manter e restaurar as florestas. Para os críticos, são um estratagema que permite que grandes poluidores de carbono em outros países continuem poluindo, ao mesmo tempo que incentivam uma nova onda de “grilagem verde” e evocam memórias das restrições coloniais aos direitos dos povos originários.
Nesta edição, a repórter especial Claudia Antunes faz um mergulho profundo no tema dos créditos de carbono, no estilo completo, preciso e equilibrado que marca suas investigações. Ela apresenta detalhes chocantes do comércio desordenado e desregulado, de seus impactos em terras públicas e comunidades indígenas e tradicionais – e também das alegações de defensores do mercado voluntário de que a atividade está elevando os padrões de vida em algumas áreas.
É uma reportagem definitiva – aproveite, portanto, para mergulhar em uma das questões mais importantes da nossa época. A Amazônia precisa de dinheiro e de ciência, mas isso deve estar relacionado ao conhecimento tradicional e aos valores da floresta. É necessário educação, debate e responsabilidade. Conscientes disso, nas próximas semanas e meses garantiremos ferramentas aos nossos leitores, sob a forma de uma série de perguntas e respostas sobre conceitos fundamentais, entre eles créditos de carbono, REDD+, Fundo Amazônia e ponto de não retorno. Esperamos que os leitores possam se apropriar desses termos, muitas vezes esgrimidos em conversas internacionais sem esforços suficientes para escutar as opiniões das pessoas que vivem no local.
Tal distância pode levar à injustiça e à violência, como podemos ver em duas fortes reportagens nesta edição de SUMAÚMA. A primeira é um relato dos jornalistas Helena Palmquist e Rafael Moro Martins sobre a resposta do governo federal a um processo legal sobre o uso de armas químicas por militares brasileiros para limpar (leia-se exterminar) oito aldeias indígenas Waimiri Atroari que estavam no caminho da construção da rodovia BR-174 durante a ditadura empresarial-militar, na década de 1970. A segunda é uma atualização da tentativa em curso – no Congresso e nos tribunais – de negar aos povos originários o direito de demarcar seus territórios ancestrais. O voto do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes sobre o marco temporal pode abrir as portas para novos conflitos e remoções forçadas, segundo advogados dos indígenas.
Mais uma vez, obrigado por ler até aqui, por apoiar SUMAÚMA e por espalhar a mensagem.
Jonathan Watts
Idealizador e diretor de relações internacionais de SUMAÚMA |
LEIA AQUI
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Reportagem
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‘Caubóis do carbono’ loteiam a Amazônia
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Turbinada por dinheiro de bancos e companhias petrolíferas, parte das empresas que buscam gerar créditos para compensar emissões do gás de efeito estufa é suspeita de abusos em contratos com povos indígenas e populações tradicionais. Como o mercado não tem nenhuma regulação do governo brasileiro, os benefícios que poderiam ser gerados estão envoltos em desconfiança e a ‘grilagem verde’ avança sobre a floresta |
CLAUDIA ANTUNES, RIO DE JANEIRO/RJ
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