Nossa Voz
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A 'governabilidade' tem sangue nas mãos
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Querida Comunidade,
Nas últimas semanas assistimos ao Congresso desmatar gravemente o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e decidir que o Ministério dos Povos Indígenas não tem autoridade para tratar da demarcação das terras indígenas. Assistimos a tudo isso acontecer com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Assistimos a ministros petistas e deputados e senadores da base do governo nem sequer fingirem que tentavam barrar a destruição. E assistimos à maior parte da imprensa reduzir todos esses movimentos ao jogo de uma política de tabuleiro pequeno. Não é Lula que “foi emparedado pelo Congresso”. Somos nós e todos os outros.
Essa é parte significativa da desgraça. Parece não existir maneira de tirar a crise climática do gueto e trazê-la para o centro do debate. Ora, dizem os petistas e parlamentares da base aliada, “não tinha alternativa, é a governabilidade”. Quem não tem alternativa somos nós. Não nos venham falar em “governabilidade”. A governabilidade já avalizou horrores demais no Brasil em anos recentes. A governabilidade tem sangue nas mãos.
Será preciso muito mais vigilância e mobilização coletiva se quisermos ter alguma chance. Será preciso muito mais pressão internacional e boicote dos produtos brasileiros originados do desmatamento, porque os predadores do Congresso só vão parar quando suas decisões contra o meio ambiente prejudicarem os lucros de seus financiadores. É preciso votar melhor na próxima eleição para instalar democraticamente um parlamento preocupado com o bem comum. Mas não há tempo para esperar, é preciso agir no agora.
Para que nossos leitores se posicionem com informação de qualidade e profundidade na guerra contra a natureza, nossa equipe faz diariamente seus melhores esforços. Esta newsletter que vocês recebem hoje é a maior de nossos quase 9 meses de vida. Nesta edição vocês encontram uma reportagem especial de Ângela Bastos, que foi até a terra dos Xokleng, em Santa Catarina. Esse povo indígena está no centro do julgamento do marco temporal, que é retomado nesta quarta-feira no Supremo Tribunal Federal.
Esta semana é particularmente muito dura para nós, da equipe de SUMAÚMA: 5 de junho marcou 1 ano do assassinato brutal de Bruno Pereira e Dom Phillips. Dom era amigo pessoal de alguns de nós. Bruno era fonte, referência de dedicação à Amazônia e aos povos indígenas. Para colaborar com a construção da memória, SUMAÚMA reuniu Beatriz Matos e Alessandra Sampaio, em Brasília, para uma conversa. Os leitores acompanham o diálogo povoado de afetos, inteligência e delicadezas dessas duas mulheres que enviuvaram na guerra em uma reportagem de nossa cofundadora e editora de cuidados, Verónica Goyzueta.
Há muito mais. SUMAÚMA só publica o que é indispensável e espera que vocês nos honrem com sua leitura porque não oferecemos nada trivial ou descartável. Cito ainda, para ler com calma e jamais se arrepender de ter lido, o texto escrito por Patri, uma imigrante venezuelana que se prostituiu nos bordéis dos garimpos da Terra Indígena Yanomami. Patri documentou o que viu, viveu e escutou em seus cadernos escritos à mão e ilustrados com desenhos das situações vividas. Ao ler a história de Patri, escrita por ela mesma, compreendemos muito mais os acontecimentos na Terra Indígena Yanomami – e a experiência das mulheres nesse contexto brutal.
Paramos por alguns dias para reunificar nossas forças e voltaremos a publicar na próxima semana. Seguimos juntas, juntos, juntes no nosso compromisso com a vida.
Eliane Brum
Semeadora de SUMAÚMA |
LEIA AQUI
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Reportagem
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Lula vai deixar Marina sozinha na luta pelo meio ambiente?
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Ministra que dá lastro internacional para a agenda ambiental do petista, ela dormiu se sentindo vitoriosa no debate da licença ambiental para explorar petróleo na foz do Amazonas mas, no dia seguinte, teve poderes desmatados e se viu bombardeada por um Congresso predatório, representante dos interesses do agronegócio negacionista. E o pior: com o aval do presidente do Brasil |
CLAUDIA ANTUNES, RIO DE JANEIRO/RJ
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