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Edição 35 |
quinta-feira, 22 fevereiro, 2024 |
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Nossa Voz
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Com quem será… que Bolsonaro vai casar
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Eliane Brum
Altamira, Pará, Rio Xingu, Amazônia
No próximo domingo, 25, Jair Bolsonaro (PL) tentará dar uma demonstração de força ao conclamar suas apoiadoras e apoiadores para um ato em São Paulo, maior cidade brasileira. Desde 8 de fevereiro, quando a operação da Polícia Federal Tempus Veritatis (Tempo da Verdade) começou a detalhar como o ex-presidente, alguns militares de alta patente e um grupo de civis planejaram um golpe de Estado para perpetuar o extremista de direita no poder, Bolsonaro sabe que, pela primeira vez na sua longa ficha corrida de impunidades, há grandes chances de ele ser preso pela Justiça Comum. Assim, apresenta-se como perseguido, vítima de arbítrio e aposta todas as suas fichas no ato na Avenida Paulista para mostrar que parte do Brasil ainda é dele. Mas muito mais do que o indivíduo Bolsonaro, o que estará em exibição será o tamanho e o vigor da base bolsonarista, que já está em disputa.
Bolsonaro compreendeu bem o papel que a Amazônia desempenha em um mundo em colapso climático. E compreendeu como manipular a insegurança de pessoas num momento em que o superaquecimento global provoca eventos extremos capazes de literalmente tirar o chão dos pés de uma população que já se sente desamparada por mudanças que não compreende. Apesar de espertamente “negar” a crise climática, Bolsonaro, assim como Donald Trump, se beneficia largamente da insegurança ampliada por um planeta em mutação.
Não por acaso seu principal projeto de poder, ao assumir a presidência em 2019, era converter as áreas públicas da Amazônia, grande parte delas de ocupação indígena, em terras privadas para a exploração – de minérios, de soja, de boi ou simplesmente para especulação imobiliária. Partidário da ideologia da ditadura militar para a Amazônia, Bolsonaro sempre viu a floresta como um corpo para a violação – e, para ele, o corpo para violação é o feminino, a ser usado e esvaziado. Quem não lembra da frase emblemática de Bolsonaro logo no primeiro ano de governo? “[A floresta] é a virgem que todo tarado de fora quer.” É dessa estirpe o seu suposto nacionalismo: que o “direito” de violar seja só dos brasileiros.
Agora que Bolsonaro se tornou inelegível por oito anos e possivelmente será preso, quem pode encarnar esse lugar e representar uma parte da população que experimentou o gosto de se sentir representada em suas inseguranças, medos e brutalidades e não está disposta a perder o conforto de se sentir legitimada? |
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