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Edição 36 |
sexta-feira, 15 março, 2024 |
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Nossa Voz
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Um período curto, mas aterrorizante: o 'evento' humano
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Jonathan Watts
Altamira, Rio Xingu, Amazônia
Imagine que você é uma rocha. Qualquer rocha. Pode ser um rochedo à beira do Rio Amazonas, um seixo no Deserto do Saara, ou uma pedra nas encostas de uma montanha do Himalaia. Volte à memória profunda daquela rocha, formada ao longo de milhões ou bilhões de anos, empurrada pra lá e pra cá por inundações, terremotos, vulcões e deslizamentos de terra, e depois deixada imóvel num lugar – talvez no subsolo ou no fundo do oceano – durante décadas, séculos ou milênios. Coloque tudo isso – a história da Terra – em sua mente e depois se faça esta única pergunta: qual é a importância da espécie humana?
A questão é central num acirrado debate global que entrou na esfera pública na semana passada, quando um painel de historiadores do planeta, também conhecidos como geólogos, se recusou a aceitar que a Terra entrara numa nova época geológica dominada pelo humano, chamada Antropoceno. Mas o que isso significa para a Floresta Amazônica e outros grandes centros de vida mais-que-humana?
Em nível político, parece um presente para aqueles que querem negar que os seres humanos têm impacto prejudicial na natureza. Eles tentarão afirmar que os geólogos estão do seu lado, mas isso não é verdade. Nenhum cientista sério duvida do enorme impacto desestabilizador da indústria, do desmatamento e da monocultura. Na verdade, pode-se argumentar que designar o Antropoceno como um evento em vez de uma “época” torna-o mais alarmante. Os eventos geológicos são fenômenos temporários que alteram o sistema da Terra, como uma série de erupções vulcânicas ou o Grande Evento de Oxigenação (GEO), possível causa da aniquilação de grande parte da vida na Terra há 2,4 bilhões de anos.
Enquanto os geólogos debatem a mudança sísmica a um ritmo glacial, em SUMAÚMA não precisamos de um painel de peritos distantes para nos dizer que a Floresta Tropical e o seu povo estão sob ameaça da humanidade industrializada. Os povos indígenas têm dito isso há muitas décadas. E SUMAÚMA continuará olhando para os impactos antropogênicos a partir de uma perspectiva mais-que-humana. Que abraça não apenas fósseis e rochas, mas toda a vida. |
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