“Chego nessa fase de trazer as palavras deles para vocês conhecerem, entenderem nosso mundo, como somos, e o porquê das danças, o porquê das curas, o porquê do benzimento, o porquê das aves serem como são, o porquê do ser humano ser assim.”
Só alguém que é natureza pode dar conta de tantos porquês. É assim que Francy Baniwa, conhecida por seu povo como Hipamaalhe, lança o primeiro livro de antropologia escrito por uma mulher indígena no Brasil. Seu Umbigo do Mundo: Mitologia, Ritual e Memória Baniwa Waliperedakeenaai é assinado também por seu pai, Matsaape ou Francisco Baniwa, e lançado por essa editora tão singular chamada Dantes.
Nenhum outro lugar poderia abrigar tal lançamento. Quatro anos e meio depois do incêndio que destruiu 85% do acervo do Museu Nacional, uma alegoria cruel na literalidade de um país que se brutalizava com a ascensão da extrema direita anti-indígena, o fogo ressurgiu. Desta vez trazendo um novo sentido.
O quintal do prédio histórico abrigou uma vigília de memórias ancestrais que durou do entardecer chuvoso do sábado, 15 de abril, à ensolarada manhã de domingo. Todos os sentidos foram estimulados por cantos indígenas e danças em círculo ao redor de uma fogueira com 200 pessoas dispostas a fazer essa passagem. O acontecimento foi criado pela equipe do Selvagem – Ciclo de Estudos Sobre a Vida, um movimento sobre conhecimentos indígenas, científicos, tradicionais e de outras espécies concebido pela editora Anna Dantes, orientado pelo pensador indígena Ailton Krenak, organizado pela produtora cultural Madeleine Deschamps e realizado por um coletivo de participantes, muitos deles voluntários.
“Nós estamos cercados de guarda-chuvas, nessa situação imprevista de nos encontrar aqui em torno da memória”, disse Ailton Krenak, na abertura do encontro. “Essa invocação de povos cheios de memórias, ela tem a ver com a expressão corpo-território. É sobre instituir memória, sentindo, contando a história da origem das coisas e experimentando essas coisas. Uma memória social não só dos objetos, mas uma memória dos nossos afetos, dos nossos sentidos de vida.”
Os indígenas Baniwa (da esquerda para direita): Francisco Fontes Baniwa, Francineia Fontes Baniwa, Diego Emílio, Fabricio Ruy Fontes , André Fernando e Frank Fontes Baniwa. Por 12 horas, do entardecer ao pôr do sol, todos os sentidos foram estimulados por cantos indígenas e danças em círculo ao redor de uma fogueira, com 200 pessoas no local. Narradores indígenas, griôs, quilombolas, acadêmicos, literários e contadores de histórias levaram os presentes a uma imersão. Foto: Ana Carolina Fernandes/Sumaúma
Cercada de parentes, Francy Baniwa explicitou a relação das narrativas com a realidade dos povos originários: “Que vocês se permitam viajar nessas narrativas e que a partir daí vocês possam entender a importância das mitologias e da demarcação dos territórios. E possam olhar para os povos indígenas com outros olhares”. A escritora explicou que seu livro “começa contando como o mundo antigamente era pequeno e foi se transformando desde a criação do mundo até nós aqui, sentados nesse mundo tão grande”. Para os Baniwa, o universo é composto de múltiplas camadas, associadas a várias divindades, espíritos e outras gentes.
Francy Baniwa, antropóloga indígena autora do livro Umbigo do Mundo, lançado durante a vigília de memórias ancestrais no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Foto: Juliana Chalita
Francy é uma pesquisadora, antropóloga e fotógrafa nascida na comunidade de Assunção do Içana, localizada no complexo cultural e ecológico do Alto rio Negro, no Amazonas. Graduada em sociologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), mestra e doutoranda em antropologia social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela também é conhecedora do rio, da roça e da floresta – de onde é e para onde sempre volta.
A obra é uma versão revisada e comentada da sua dissertação, dedicada a transcrever e traduzir narrativas míticas do povo Baniwa a partir da escuta e análise da narração do seu pai, um maadzero (sábio) de sua comunidade. Frank Baniwa, irmão da autora, assina os 73 belíssimos desenhos do livro.
Convidados para a vigília se resguardaram da chuva. Quando houve trégua, todos se reuniram ao redor de uma fogueira. Foto: Ana Carolina Fernandes/Sumaúma
Umbigo do Mundo tem sido descrito por não indígenas como um “acontecimento literário”, uma “epopeia amazônica”, uma “trilha cosmológica pelas paisagens do Noroeste Amazônico”, uma “amostra da complexidade das narrativas de criação do povo Baniwa”.
As pessoas circulavam com o que precisavam para atravessar a noite, após serem bem acolhidas e orientadas. Faixas com grafia e desenhos indígenas e delicadezas como formigueiros circundados com folhas criavam o clima arrebatador dos eventos do Ciclo Selvagem.
O bombeiro, luthier e músico Davi Lopes, que combateu o incêndio do Museu Nacional e à época da tragédia transformou madeiras dos escombros em instrumentos musicais, deu boas-vindas aos convidados. O delicado processo foi registrado no documentário Fênix: o Voo de Davi.
Acompanhado de seu neto, Fabrício Baniwa, e de seu filho Franky, Francisco Baniwa também fez uma breve apresentação musical, tocando flautas Japurutu, tradicionais do rio Negro, e dançando em pares com mulheres que se voluntariaram entre o público. O Japurutu nos levou para o umbigo do mundo, a cachoeira de Hipana, no rio Aiari, de onde surgiu a humanidade e onde tudo vai terminar, segundo a cosmogonia Baniwa.
Entrememórias
“Para contar uma história da criação do mundo, e o mundo tem muitas histórias, é preciso que as nossas memórias estejam encorpadas”, disse Ailton Krenak. “A gente não pode ser um corpo vazio. Qual seria a maneira de a gente honrar essa experiência social, plural, que a gente compõe como uma sociedade complexa, de viver entre muitas culturas, muitas etnias, muitas memórias?”
Grande parte do acervo queimado era memória dos indígenas, e na noite em que o Museu Nacional queimou vários deles correram para lá e repetiam sem parar: “Nossas memórias, nossas memórias”. Disso lembrou Krenak: “Foi um prejuízo grave, mas imagina se a gente não tivesse memória de tudo aquilo que queimou?”.
Para tratar da importância da publicação do livro, André Baniwa, hoje diretor de Demarcação Territorial do Ministério dos Povos Indígenas, discorreu sobre o processo de organização do movimento indígena no rio Negro: as assembleias, a criação da federação das organizações indígenas, as escolas indígenas, até chegar aos Baniwa hoje nas universidades. “Se o Brasil e as universidades decidirem investir nisso, o país terá um potencial muito grande de criar uma identidade própria e fortalecer as culturas indígenas. Eu ainda quero ver ser criada uma universidade indígena no Brasil, com um tipo de conhecimento mais adequado e mais sustentável para nossa realidade, como demanda a situação atual de mudança climática”, afirmou.
Indígenas tocaram flautas Japurutu, tradicionais do Rio Negro, ao redor do fogo, durante a vigília de memórias ancestrais no quintal do Museu Nacional. Foto: Ana Carolina Fernandes/Sumaúma
A experiência de escutar línguas indígenas em nosso próprio território, assinalou Idjahure Kadiwel, antropólogo, editor, tradutor e poeta indígena, deveria compor a educação dos brasileiros e brasileiras. Idjahure explicou que a língua Baniwa, que faz parte da família linguística Aruak, é uma das cerca de 180 línguas indígenas existentes no Brasil, país que tem uma das maiores diversidades linguísticas do mundo.
Aparecida Vilaça, professora do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e seu filho, Francisco Vilaça Gaspar, partilharam a leitura de trechos de um dos contos de Ficções Amazônicas. O livro foi escrito por eles durante a pandemia a partir das memórias e das vivências, por décadas, com povos indígenas. Francisco concluiu a participação citando o advogado e jurista argentino Julio César Strassera, que atuou como promotor no julgamento dos militares que implantaram a ditadura naquele país: “Nos cabe a responsabilidade de fundar uma paz baseada não no esquecimento, mas na memória, não na violência, mas na justiça”.
Os participantes se aquecem perto da fogueira, sob um clima arrebatador que se formou ao longo de horas de trocas e memórias ancestrais. Foto: Ana Carolina Hernandes/Sumaúma
Ao avisar que traria um tom mais pesado à noite, a poeta e artista Amora Pêra leu o poema Mausoléu Nacional, escrito após o incêndio do museu:
somos todos feitos do silêncio do outro
feitos de apagamento
de mil e quinhentos a dois mil e dezoito
ninguém viu?
alguém Rio
enquanto queimava Luzia
que dessa vez parece que não resistiu
(…)
as feiticeiras cantam que
das cinzas se pode renascer
os cientistas choram e é de chorar
(…)
a memória é uma ilha ateada de fogo e apagamento
nosso corpo povo queimando lento
nosso Brasal
nosso atraso tragédia descobrimento
Entrelínguas
Depois da imersão na cosmogonia Baniwa, lideranças indígenas e intelectuais dividiram com o público as memórias ancestrais, as suas e as de seus povos, de outros cantos do Brasil. Cada uma e todas as falas aos poucos evidenciavam que essa só é uma experiência possível quando vivida e lembrada como movimento coletivo.
A professora e artista Glicéria Tupinambá explicou o processo de revitalização e resgate dos mantos Tupinambá, símbolo de memória e resistência. Além da busca pelos mantos em museus europeus, iniciou um processo de confeccionar novos com penas das aves hoje existentes no seu território, a aldeia Serra do Padeiro, no sul da Bahia. Uma das réplicas confeccionadas por ela não foi atingida pelo incêndio e integra a coleção do Museu Nacional.
Hendu é ouvir com o corpo. O conceito foi traduzido pela curadora de arte e atual diretora de artes visuais da Funarte, Sandra Benites. Guarani Ñandeva, da Terra Indígena Porto Lindo, em Mato Grosso do Sul, ela abordou inquietações sobre os esforços dos indígenas para serem respeitados e terem seus conhecimentos valorizados. Sandra descreveu as memórias ancestrais como uma visão de mundo, citando o artista Jaider Esbell: “Isso é uma eternidade de processo e de ensino e de aprendizado que não tem fim. Esse é um processo educacional, na verdade”.
A palavra “resiliência” ecoou na fala da cacica e liderança espiritual Catarina Guarani ao explicar o processo de retomada, na aldeia Piaçaguera, em Peruíbe, São Paulo. Nesse processo, no qual ela foi convidada a assumir liderança, tornando-se cacica, sempre esteve conectada com a sua espiritualidade, presente também nos seus sonhos.
Cris Takuá, parteira e educadora, do povo Maxakali, vive na aldeia Terra Indígena Ribeirão Silveira, em São Sebastião, São Paulo. Ela descreveu os poderes e os usos da erva-mate, planta que lhe deu a força e que cura e dialoga com o feminino e os seres sagrados. A planta é parte de rituais e da vida cotidiana dos indígenas Guarani desde muito antes da chegada dos europeus à América. Alguns deles foram escravizados posteriormente para a produção da erva.
Ao se apresentar como um jovem aprendiz no caminho espiritual, ainda entendendo como se conectar com os códigos do vento, dos pássaros e das formigas, Carlos Papá, líder indígena do povo Guarani Mbya, falou sobre a importância de sentir a própria sombra. E sobre a flexibilidade que se adiciona na floresta ao se esquivar, levantar, pular. “Uma forma de dançar o dia inteiro.” Papá questionou a incessante busca da felicidade nas coisas. E fechou sua fala com o canto da Nhe’ery, “onde os espíritos se banham”, como os Guarani chamam a Mata Atlântica.
Entremundos
Ailton Krenak devolveu todos ao redor da fogueira, fascinado com o estado de atenção criado com a alternância da chuva, que permitiu uma vigília tão densa, que chamou de a “experiência de um dançar imprevisível”.
“A gente está hoje compartilhando essa experiência pluricultural, atravessada por experiências individuais, interpondo uma consciência plural”, disse o pensador indígena. “É muito interessante se permitir essa certa promiscuidade de um entrar na memória do outro, essa invasão gentil de memórias ancestrais. Uma experiência muito mais enriquecedora de espírito do que aquela outra, que eles nos propõem, com esses aparatos todos, que estão por aí, se multiplicando, abordando a gente. Seria muito interessante a gente produzir uma reação espiritada contra os algoritmos. E é muito reconfortante imaginar que nós somos capazes de nos dispor de alguma atitude criativa, regenerante, para lembrar a expressão do Fabio Scarano [engenheiro florestal, autor de Regenerantes de Gaia], uma atitude regenerante de Gaia.”
Ailton Krenak e indígenas Baniwa se conectam com os participantes do evento durante o Círculo de Memórias, no Museu Nacional, do Rio de Janeiro. Fotos: Ana Carolina Fernandes/Sumaúma
Krenak, então, convidou os participantes a permitir que seus corpos se expressassem em memória, o que gerou uma cadência de falas e intervenções, numa confluência surpreendente de músicas e poemas que todos compartilharam, revivendo suas próprias memórias ancestrais.
A madrugada terminou com as narrativas griôs (mestres responsáveis pela memória afetiva e pela transmissão oral da cultura africana) e caboclas, que materializaram a intenção do Ciclo Selvagem de incorporar o conhecimento tradicional dos afro-brasileiros. As memórias – criativas, ativas e curativas – são também difíceis e doloridas.
A líder comunitária Helena Edir Vicente, uma das griôs do Complexo da Maré, começou agradecendo por estar ali, ouvindo aquelas histórias, revivendo as suas próprias memórias, como as que dividiu com os convidados sobre a sua avó. Helena contou que sua avó nasceu antes da Lei do Ventre Livre, quando “as meninas negras eram sacrificadas porque só aproveitavam os meninos”. Ela só não foi sacrificada, explicou a griô, por conta de uma necessidade da patroa, já que uma pessoa da fazenda tinha se casado e precisava de uma serva doméstica. “Ela tinha orgulho de ter sido salva, achava aquilo bonito. Só depois eu fui entender que a patroa dela só deixou que ela vivesse porque precisava de alguém para cuidar de pessoas que estavam nascendo na família dela.”
Helena Edir (sentada à esq) e Teresa Onã, em suas falas, trouxeram os elementos da oralidade na cosmogonia iorubá durante a vigília no Museu Nacional. Foto: Ana Carolina Hernandes/Sumaúma
Helena partiu das memórias da sua avó para dividir como foi a sua migração de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais, para a Favela Nova Holanda, a comunidade mais negra do Complexo da Maré, e a formação da associação de moradores: “Quando eu cheguei na Maré, eu encontrei um pouco daquela coisa que tinha em Minas. Era tipo uma cidadezinha pequena, todo mundo ajudava uns aos outros. Não tinha água, não tinha luz, não tinha rede, esgoto, não tinha nada, e nós fazíamos mutirões”. Hoje, Helena é uma das diretoras da Redes da Maré, organização que desenvolve projetos de arte, cultura, memórias e identidades, como o Centro de Artes da Maré, o único equipamento público local.
Teresa Onã nasceu Teresa Cristina, mas adotou Onã, nome de um Exu (o senhor dos caminhos). Com o documentário As Griots da Maré, ela tem levado as memórias a escolas e trabalhado elementos da oralidade na cosmogonia iorubá com estudantes na Maré, para criar uma cultura afropindorâmica – denominação sugerida pelo pensador quilombola Nêgo Bispo para os povos quilombolas, negros e indígenas.
“A gente está aqui num momento de ressignificação da memória do Museu Nacional. A gente, por muito tempo, ficou sendo engolido por outras culturas. Eu, por exemplo, não entendia essa coisa linda que é ser uma mulher negra. Esse monte de memória, essas referências”, disse Teresa. “Nossos heróis não morreram de overdose, nossos heróis foram assassinados.”
Entrepotências
O dia raiou com o tambor do griô e percussionista senegalês Pape Babou Seck. Ele, que desenvolve um trabalho de vivência cultural africana com crianças no Rio de Janeiro, explicou como se confecciona um tambor e invocou seus ancestrais.
O dia clareou com o grupo dançando, depois de usar a oralidade para expressar suas memórias. Foto: Ana Carolina Fernandes/Sumaúma
Verônica Pinheiro, responsável pelo Grupo Crianças da Comunidade Selvagem, abordou o tema do universo infantil e memórias, seguida do pedagogo e escritor Luiz Rufino, autor, entre outros, de Vence-demanda: Educação e Descolonização. Rufino relembrou a terra de sua família, os vaqueiros do Ceará e a mata do sertão. Ainda criança, durante uma caça ao boi, todo mundo seguia montado nos cavalos e ele ficou para trás. Com ele estava um velho cego, segurando um cajado, que perguntava: “Mas cadê esse boi? Você não tá vendo o boi? O boi tá na mata”. Mas Rufino não via mata, só via o sertão.
Cenas do amanhecer: o dia raiou com os convidados dançando com os pés sobre a terra úmida por causa das chuvas ao longo da noite e da madrugada. Foto: Ana Carolina Fernandes/Sumaúma
O dia foi clareando ao som de Rodrigo Maré, Cúrcuma Groove e da flautista Ana Paula Cruz, entre danças e preguiça. Uma reza e palavras de Cris Takuá fecharam a vigília ancestral: “Todos os dias o sol se levanta para nos aquecer, para permitir que a gente continue vivendo. Enquanto os rezadores, as rezadoras, continuarem entoando as suas boas e belas palavras sagradas e as crianças cantando, encantando essa terra, ainda vai existir a possibilidade de a gente acessar o caminho do bem viver. Eu agradeço a cada um de vocês que se levantaram com a gente, que compartilharam seus cantos, seus silêncios, suas concentrações. Foi uma noite de muitos movimentos profundos. Eu agradeço a cada um que teve essa força de passar esse tempo longo juntos. Que a gente continue criando e recriando possibilidades vivas de transmitir saberes, porque as memórias, elas nunca morrem, elas só adormecem”.
No despertar da vigília, houve relaxamento, após uma experiência intensa de memórias ancestrais. Foto: Ana Carolina Fernandes/Sumaúma
Todas as ordinárias e extraordinárias memórias daquela noite, que nunca vai acabar, podem ser alcançadas no canal do YouTube do Ciclo Selvagem, acompanhadas da inquietante pergunta de Francy Baniwa: “Como é que a memória permeia nosso cotidiano quando a vida é urbana?”.
Revisão ortográfica (português): Elvira Gago
Tradução para o espanhol: Meritxell Almarza
Tradução para o inglês: Mark Murray. Edição: Diane Whitty
Edição de fotografia: Marcelo Aguilar, Mariana Greif e Pablo Albarenga
Montagem da página: Érica Saboya