Caso não consiga ver esta newsletter, clique aqui

If you can't see this newsletter, click here

Si no puede ver este boletín, haga clic aquí

Sumaúma: Jornalismo do Centro do Mundo
Edição 49
quinta-feira, 12 dezembro, 2024
Noite feliz, noite de chuva
Jonathan Watts
Altamira, Rio Xingu, Amazônia


Neste mundo tão polarizado, há algo que todos temos em comum: a sensação de alívio quando o clima se comporta de uma forma relativamente normal.

É tão raro que isso aconteça hoje em dia que foi com imensa alegria que recebemos a notícia de uma chuva volumosa em Altamira. Ela interrompeu – pelo menos por ora – a estação atipicamente seca, longa e ardente que atormenta o estado do Pará e grande parte da região amazônica pelo segundo ano consecutivo.

Se o clima estivesse normal, o esperado seriam aguaceiros diários, durante vários meses, para encher os rios desidratados, apagar os incêndios criminosos e revitalizar a floresta ressecada. Os tons castanhos passariam a ser verdes e a multidão de vida respiraria mais facilmente.

Seriam notícias bem-vindas para aqueles que procuram a alegria de cada estação. O Natal não é Natal sem chuva na floresta tropical. Mas algumas porções da Amazônia ainda estão secas. As estações chuvosas estão cada vez mais curtas, o que é ruim para a floresta, para o abastecimento de água e para a geração de alimentos.

Enquanto isso, os esforços humanos para combater o aquecimento global correm o risco de retroceder vários passos. A COP do clima em Baku, foi uma das mais miseráveis já registradas, e deixou o Brasil com uma montanha para escalar em novembro do próximo ano, quando Belém sediará a COP-30, a primeira na Amazônia. É bem possível que o público testemunhe o céu envolto em fumaça criminosa, o que seria um símbolo adequado para um mundo em chamas e com a liderança global tomada pelos interesses dos exploradores de combustíveis fósseis.

O próximo ano será difícil. Quando Donald Trump assumir o poder em janeiro, é provável que avance rapidamente para, mais uma vez, retirar os Estados Unidos do Acordo Climático de Paris. Grandes nomes do setor empresarial têm recuado de compromissos, cada vez mais enfraquecidos, de proteger o meio ambiente. A Coca-Cola diluiu suas promessas de emissões e reciclagem. Os lobistas corporativos obstruíram esforços para aprovar um tratado global que limitaria a poluição por plástico. Grandes instituições financeiras, como BlackRock e JPMorganChase, são acusadas de providenciar capital para empresas que desmatam florestas e violam direitos Indígenas.

Também no Brasil boa parte dos produtores e negociantes de grãos ainda resiste a aderir à moratória da soja, que é, há 18 anos, o acordo mais proeminente do setor privado para proteger a Amazônia. Os líderes linha-dura do agronegócio e da mineração estão em ascensão e ganharão ainda mais poder com o recente anúncio do acordo Mercosul-União Europeia.

Em certo sentido, isso coloca a Amazônia em uma posição ainda mais precária. A floresta tropical sofrerá mais pressão extrativista, a extrema direita será encorajada e o colapso climático vai se acelerar.

Apesar das muitas ameaças que a COP-30 em Belém enfrenta de inimigos políticos, incapacidade logística e potencial violência policial contra a sociedade civil, há uma história forte para contar: a de sobreviver ao colonialismo e à escravidão, de reduzir o desmatamento da Amazônia e do Cerrado e de trazer mais líderes Indígenas para o governo. Se a luta de uma retomada precisa começar em algum lugar, que seja aqui, onde tanto os povos tradicionais como os pequenos produtores rurais estão sob pressão dos negociadores globais e do clima alterado pelos combustíveis fósseis.

Por isso, apertem os cintos e se mantenham unidos. SUMAÚMA vai relatar todo esse caminho através dos olhos da nossa equipe premiada de jornalistas e com a bem-vinda chegada de um novo repórter sediado em Belém, Guilherme Guerreiro Neto.

Ainda há muitas histórias a serem contadas, razões para lutar e motivos de alegria. A solidariedade nunca foi tão importante. Agradecemos a todos vocês da comunidade SUMAÚMA por lerem os nossos artigos e apoiarem o nosso trabalho em 2024.

Desejamos a todas e todos chuvas reparadoras, momentos de calma e vigor renovado para 2025.
Continue lendo
Meia-lua que resiste ao inferno: extremos do clima ameaçam território de devoções na Amazônia

Como a seca, o calor e os temporais produzidos pelo aquecimento global e pela destruição da Natureza abalam tradições religiosas em comunidades Quilombolas do Baixo Amazonas

Soll, Gurupá, Arquipélago do Marajó, Pará, Amazônia
Crianças Indígenas salvam crianças Tracajás para garantir futuro

Com a Volta Grande do Xingu gravemente afetada pela hidrelétrica de Belo Monte, que sequestra grande parte da água para alimentar suas turbinas, as bebês estão morrendo ainda no ninho devido à elevação da temperatura

Soll, Aldeia Mïratu, Volta Grande do Xingu, Pará, Amazônia
Do estupro na infância ao ativismo contra o petróleo: uma história de resistência

Uma das principais lideranças Indígenas na luta contra a exploração de combustível fóssil na foz do Amazonas conta que teve de deixar seu território devido a ameaças

Luene Karipuna, Oiapoque, Amapá
Recordes de incêndio na Amazônia são obra de grileiros e pecuaristas, mas poucos são presos

Levantamento de SUMAÚMA mostra que investigações quase nunca chegam a culpados, apesar de o fogo ser sempre iniciado por ação humana para desmatar novas áreas agrícolas

Rafael Moro Martins, Brasília
Arapujá, a segunda morte da ilha que vestia a lua

Aquela que foi símbolo e identidade de Altamira queimou diante de uma maioria indiferente ao seu destino, mostrando o quanto a cidade virou as costas para a Floresta Amazônica, cavando sua própria tragédia um pouco mais a cada dia

Juliana Bastos, Guilherme Guerreiro Neto, Médio Xingu, Altamira, Pará, Amazônia
A COP do clima entrega o futuro ao mercado

Com promessa irrisória de dinheiro para os mais pobres, conferência de Baku aprova comércio de carbono como alternativa principal, não avança contra combustíveis fósseis e deixa para Belém tarefa de fazer com que os poluidores paguem

Claudia Antunes, Baku, Azerbaijão
COP da biodiversidade: falta de urgência diplomática emperra dinheiro para salvar florestas

Primeira etapa da trilha Cali-Belém, a Conferência da ONU na Colômbia garantiu vitórias a Indígenas, mas não assegurou o compromisso de países ricos com a proteção ambiental

Talita Bedinelli, Cali, Colômbia
Com terras devastadas pelas enchentes, agricultores gaúchos vão à Amazônia plantar Soja
Vítimas da catástrofe climática que eles mesmos ajudaram a produzir, sojicultores do Rio Grande do Sul desembarcam em Altamira, no Pará, para arrendar terras e aumentar o desmatamento que desregula as chuvas
Rafael Moro Martins, Brasília
Agro leva bônus sem ônus na lei que cria mercado de carbono regulado no Brasil

Última versão da proposta para reduzir as emissões de grandes empresas poluidoras garante privilégios para a atividade responsável pela maior parte das emissões de gases do efeito estufa no Brasil

Claudia Antunes, Rio de Janeiro
'Quando eu subi no telhado, foi por instinto de sobrevivência

O Cavalo Caramelo se tornou um símbolo da resiliência nas enchentes do Rio Grande do Sul ao ser resgatado do topo de uma casa no bairro de Mathias Velho, em Canoas. Nesta reportagem em quadrinhos, feita a partir de entrevistas com pessoas ligadas a ele, contamos sobre sua vida atual e imaginamos o que ele falaria sobre tudo que passou

Pablito Aguiar, Alvorada, Rio Grande do Sul
O lado de cá
Na Floresta, a autora estica os sentidos na tentativa de alcançar, no crepitar do fogo, os motivos para destruirmos os próprios sonhos
Maria Soares (texto e fotos), Anapu, Pará, Amazônia
Sonhando mundos em que ainda dá tempo

Um convite para resgatar a potência das imagens e das vozes que nos habitam como estratégia para criar comunidades de partilha e enfrentar o colapso

Mariana Leal de Barros
'Estamos nos preparando para a luta de nossas vidas, na qual toda vida importa'

A escritora Aborígine australiana Alexis Wright diz que não há refúgio contra o colapso global e que uma literatura forte e volumosa pode nos ajudar a entender o que estamos vivendo

Gabi Martínez, Barcelona
COP-29: O agronegócio está no centro da meta climática brasileira, e não gosta disso

Setor ganha espaço para esvaziar promessa de desmatamento zero e busca diminuir a ambição do Plano Clima, que vai definir como a agricultura e a pecuária terão que contribuir para o corte das emissões do país

Claudia Antunes, Baku, Azerbaijão
Vacas e bois continuam sendo as vítimas não rastreadas do desmatamento na Amazônia

Frigoríficos exportadores que atuam na Amazônia Legal não mapeiam seus fornecedores indiretos, mostra estudo. Com o adiamento da Lei Antidesmatamento, cada uma dessas empresas e quem vende gado a ela têm potencial para destruir uma área equivalente a Belém

Regiane Oliveira, São Paulo
Episódio 53
Uma visão não humana da história da Amazônia. SUMAÚMA segue a jornada de um guariba...
Pablito Aguiar, Raimunda Tutanguira e Jonathan Watts
Episódio 54
...enquanto ele explora sua casa-floresta e tenta entender os humanos que o ameaçam
Continue lendo
As dores das Amazônidas com a seca, o peixe-jardineiro e outras histórias

Uma seleção de notícias sobre a Amazônia para ser lida em dois minutos

SUMAÚMA

Clique aqui para cancelar a assinatura